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Quando eu ouvia rádio com o pai, em casa, mais ou menos pela mesma época daquele time de garotos, havia uma canção de um cantor/ compositor que era considerado brega, como tantos outros da época. E eu adorava as canções dele, que falavam de paixões por meninas do subúrbio, da calçada ou da janela, outra em cadeira de rodas, uma professora, uma desconhecida. É difícil imaginar que Fernando Mendes cantasse temas que assumiriam destaque na agenda “politicamente correta” dos últimos 20 anos. Mas assim era. Uma das suas canções, que ainda me toca, chama-se Sorte tem quem acredita nela. Muitas vezes disse aos meus pais, sempre orgulhosos das minhas realizações, que eu era um privilegiado. Ambos se consternavam, e sempre diziam que eu havia construído uma trajetória e que o mérito era meu. Acho que sempre acreditei nas possibilidades que a fortuna me ofereceu. Mas isso não me impede de me sentir privilegiado por ter tido trajetória que tive até aqui. Afinal, muitos jovens de então, como eu, não tiveram as mesmas possibilidades e oportunidades. Por isso volto a Silvio Rodriguez: apesar de tudo que podemos ter feito pelos nossos meios, isso foi possível porque, diferentemente de outros tantos como nós, a sorte nos bafejou.
Sobre o autor
Marcus Aurelio Taborda de Oliveira é professor titular da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais. Não pensa a educação fora da cultura e da política. Não crê que a educação salvará o mundo. Entende a educação na sua polissemia, como capacidade de intercambiar experiências e de cuidados com os outros.