Um livro - a pesquisa; uma pasta - o objeto material de estudo; um manuscrito quase (in)acabado; uma obra - Versos para os pequeninos (João Köpke).
A possibilidade de Leitura que Norma nos apresenta com essa pesquisa de Versos para os pequeninos, agora na forma de livro, mobiliza-nos porque se faz tensa - pelo caudal de perguntas que dispara, qual um balanço que começa pendular e, manso, aos poucos torna-se o movimento cada vez mais cheio, espaçoso; porque se faz dançarina - provoca ao mesmo tempo que constata, indaga, confronta estudos que dão materialidade ao objeto de estudo, que indiciam pistas por entre detalhes nunca dantes abordados. Uma imagem de João Köpke e de sua produção “que entrou para a história dos livros mas que não foi construída apenas porque esta obra encerra uma qualidade em si mesma, fora da rede de pessoas (educadores, jornalistas, mestres, homens públicos, intelectuais) que a promoveram e dos leitores que lhe deram vida.”
Leitura que é desdobramento do escrever estético das palavras, formas, conteúdos, estilo, composição dos Versos para os pequeninos. O linguajar a que recorre [João Köpke], sejam onomatopeias ou “ato ilis” refrão ou frases curtas ritmadas, a poesia, mais do que um gênero ou uma forma ou um interesse estético, está num modo de relação com o mundo.
Leitura que é uma abertura à invenção pela leveza da composição, pelas estampas delicadas nos traços, nas imagens - austeras, porque advindas de um “clima” dito europeu, colonizador, modelador; pela distribuição espacial dos versos, que é um convite à instabilidade, à não fixidez do olhar, quiçá do pensamento; antes de ler as palavras, a dimensão visual da ocupação do espaço é movimento... Um autor que “impõe” um projeto tipográfico - visual - formal em suas obras, aliadas a um conteúdo, que instrui e educa / jogo lúdico, no século XIX.
A pesquisa, agora livro, que aqui se apresenta é recheada de referências que nos fazem transitar por campos que vão da leitura à escrita, à materialidade dos objetos de ensino, dos modos de ensinar, à potencialidade dos textos literários... ao que fomenta a história, a arte... um trabalho de investigação; o que transcende concepções universalizantes referendadas; interpenetram-se os objetos e os procedimentos, num fazer singular da Norma e do João Köpke. Vale conferir. (Maria Rosa R.M. de Camargo)
SOBRE A AUTORA:
Norma Sandra de Almeida Ferreira - Professora livre docente da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (FE-Unicamp). Integra o grupo de pesquisa Alfabetização, Leitura e Escrita (ALLE). Foi presidente da diretoria da Associação de Leitura do Brasil (ALB) (biênio 2009-2010). Além de publicações em diferentes periódicos e em capítulos de livros, tem os seguintes livros editados: Literatura infanto-juvenil: arte ou pedagogia-moral? (Cortez, 2000); A pesquisa em leitura no Brasil: 1980-1995 (Komedi; Arte Escrita, 2001); Leitura: um cons/certo (org.) (Nacional; IBEP, 2003); Livros, catálogos, revistas e sites para o universo escolar (org.) (Mercado de Letras; ALB, 2006); Leitura, cultura, infância: Lobato (org.) (Global; ALB, 2011); O texto na sala de aula: um clássico sobre o ensino de língua portuguesa (org.) (Autores Associados, 2014).
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