Ler é instrução? Sim, não há dúvida de que certos procedimentos de leitura podem ser aprendidos e que o hábito de ler contribui para que a pessoa participe da sociedade de forma dinâmica e desenvolta. Contudo, se o leitor não tiver formação e entusiasmo, de pouco lhe valerá qualquer estímulo à leitura ou instruções de como ler. Por isso é tão necessária a crítica à máxima de que a leitura conduz ao conhecimento e assumir que se trata exatamente do contrário: é o conhecimento que promove a leitura.
Ler é gosto? Certamente, o gosto faz parte da leitura e das escolhas do sujeito. Mas, também aqui, não há como sustentar a ideia de que o hábito ou a qualidade da leitura resulta do gosto; o gosto é expressão das formas de ser e do nível de consciência e de conhecimento da pessoa; o gosto se aprende e se forma. Por isso é tão necessária a inversão dos fatores: é a experiência da leitura, principalmente a experiência diversificada e intensa, que contribui na formação do gosto.
A especificidade da leitura está na condensação de conteúdos, na atitude reflexiva introspectiva de exame de si e das coisas, com o controle da ação intelectual. E, também, vale a pena frisar, na inclusão do sujeito num “modo de cultura” e na disseminação de hábito, práticas e formas de cultura mais densas e elaboradas. Nesse sentido, a leitura, é uma prática social circunstanciada, favorecendo o alargamento do espírito e das possibilidades de participação na sociedade.
Este livro trata disso: de ideias importantes que, por que óbvias, perdem muito de sua força criativa. Examinando com agudeza os conceitos, valores e representações relativos à promoção educação e formação do leitor, o autor propõe marcos teóricos e metodológicos que sustentem, no âmbito da escola e dos movimentos culturais, uma prática pedagógica de crítica e emancipação.