Este livro é uma contribuição atual para a aproximação entre história e arte. Em tempos de hegemonia da cultura visual, nunca foi tão importante interrogar o sentido das imagens. A leitura desta coletânea conduz ao reconhecimento da obra artística e literária como uma criação multidimensional, em que tanto o artista, quanto os agentes e o expectador são fundamentais e que a produção, a circulação e a fruição são instâncias igualmente decisivas na construção de significados da arte. Não há determinismo a priori de uma dimensão sobre a outra.
A obra reúne trabalhos de autores brasileiros e estrangeiros que apresentam como a criação cultural é um campo permanente de dinâmico. Os organizadores registram que a obra resulta da confluência da história cultural e política, refletindo sobre a ação de artistas e escritores. Assim, num certo momento, a interrogação sobre a imaginação e as relações entre arte e ciência, permitem discutir o lugar do artista e da criação artística e literária. O argumento de que a literatura se relaciona com a historiografia é retomado para apontar a fluidez das fronteiras disciplinares vigentes. Por sua vez, na arte contemporânea também se toma a memória como objeto de crítica do tempo histórico, de maneira diferente da história como disciplina científica. De outro modo, a aproximação entre a verdade e o belo encontra-se igualmente no desenho científico comprometido com a construção do conhecimento, mas que serve de base à criação artística. Por outro lado, a leitura dos ensaios reunidos revela como paisagem, vulcões, índios, modernismo e arte nacional são temas que exploram como a criação artística e literária emerge de contextos variados de colaboração, debate, diversidade e, por vezes, divergências de posições. O dinamismo do campo da criação cultural se caracteriza, portanto, não apenas pela superação de fronteiras disciplinares, mas também como território de movimentos e correntes de ideias. Fica evidente como a sociabilidade é base da criação cultural.
Os estudos reunidos neste livro possuem diferentes recortes, variando entre o contexto do Brasil, Argentina, México, Portugal, França, deslocando-se da América do Sul para a Europa, entre a arte do século XIX e vertentes do século XX, entre a arte moderna e contemporânea. Essa variedade permite sublinhar que as diferentes estratégias de abordagem da história da criação artística e literária podem seguir passos comuns. Cabe frisar, principalmente, a marca da intertextualidade, que se destaca nas análises desenvolvidas ao relacionarem fontes visuais e fontes escritas de natureza diversificada. Assim, pinturas se relacionam com aquarelas e desenhos, assim como se relacionam com crônicas de viagem, com a correspondência de seus criadores, com obras da literatura, ensaios e revistas literárias. Importante é chamar atenção para o fato de que as diferentes expressões convivem na criação de uma obra artística e literária. Compreender isso significa que não se pode desconhecer a presença de outros textos mesmo onde há hegemonia do visual. (Paulo Knauss, Professor do Departamento de História da Universidade Federal Fluminense)